AULA - (Profa. Rogileuda Cavalcante)
O
etnocentrismo é uma avaliação pautada em juízos de valor daquilo
que é considerado diferente. Se
a cultura no que tange aos valores e visões de mundo é fundamental
para nossa constituição enquanto indivíduos (servindo-nos como
parâmetro para nosso comportamento moral, por exemplo), limitar-se a
ela, desconhecendo ou depreciando as demais culturas de povos ou
grupos dos quais não fazemos parte, pode nos levar a uma visão
estreita das dimensões da vida humana. O etnocentrismo, dessa forma,
trata-se de uma visão que toma a cultura do outro (alheia ao
observador) como algo menor, sem valor, errado, primitivo. Ou seja, a
visão etnocêntrica desconsidera a lógica de funcionamento de outra
cultura, limitando-se à visão que possui como referência cultural.
A herança cultural que recebemos de nossos pais e antepassados
contribui para isso, pois nos condiciona ao mesmo tempo em que nos
educa.
O
etnocentrismo trata-se de uma avaliação pautada em juízos de valor
daquilo que é considerado diferente. Por exemplo, enquanto alguns
animais como escorpiões e cães não fazem parte da cultura
alimentar do brasileiro, em alguns países asiáticos estes animais
são preparados como alimentos, sendo vendidos na rua da mesma forma
como estamos habituados aqui a comer um pastel ou pipocas. Assim, o
que aqui é exótico, lá não necessariamente o é. Outro exemplo,
para além da comida, é a vestimenta, pois, tomando como base o
costume do homem urbano de qualquer grande centro brasileiro,
certamente a pouca vestimenta dos índios e as roupas típicas dos
escoceses – o chamado kilt – são vistas com estranheza. Da mesma
forma, um estrangeiro, ao chegar ao Brasil, vindo de um país
qualquer com muita formalidade e impessoalidade no trato, pode, ao
ser recepcionado, estranhar a cordialidade e a simpatia com que
possivelmente será tratado, mesmo sem ser conhecido.
Estes
são apenas alguns dentre tantos outros exemplos que ilustram as
diferenças culturais nos mais diversos aspectos. O ponto alto da
questão não está apenas em se constatar as diferenças, mas sim em
aprender a lidar com elas. Dessa forma, no momento de um choque
cultural entre os indivíduos, pode-se dizer que cada um considera
sua cultura como mais sofisticada do que as culturas dos demais.
Aliás, esta foi a lógica que norteou as ações de estratégia
geopolítica das nações dentre as quais nasceu o capitalismo como
modo de produção. Esses países consideravam a ampliação da
produção em escala e o desenvolvimento do comércio, da ciência e,
dessa forma, a adoção do modo de vida do europeu como “homem
civilizado”, fatores necessários e urgentes. Logo, caberia a este
último a função de civilizar o mundo, argumento pelo qual se
defendeu o neocolonialismo como forma de dominação de regiões como
a África. Tomar
conhecimento do outro sem aceitar sua lógica de pensamento e de seus
hábitos acaba por gerar uma visão etnocêntrica e preconceituosa, o
que pode até mesmo se desdobrar
em conflitos diretos. O etnocentrismo está, certamente, entre as
principais causas da intolerância internacional e da xenofobia
(preconceito contra estrangeiros ou pessoas oriundas de outras
origens). Basta pensarmos nas relações entre norte-americanos e
latinos (principalmente mexicanos) imigrantes, entre franceses e os
povos vindos do norte do continente africano que buscam residência
neste país, apenas como exemplos. A visão etnocêntrica caminha na
contramão do processo de integração global decorrente da
modernização dos meios de comunicação como a internet, pois é
sinônimo de estranheza e de falta de tolerância.
Contudo,
a inevitabilidade do choque cultural é um fato, pois as culturas
naturalmente possuem bases e estruturas diferentes, dando
significação à vida de formas distintas. Prova disso estaria no
papel social assumido pelas mulheres, que certamente não possuem os
mesmos direitos enquanto pessoa humana em sociedades ocidentais e
orientais. Este fato, aliás, tem sido objeto de longas discussões
internacionais acerca dos direitos humanos e das questões de gênero.
A complexidade dessa questão é muito clara, pois se para nós do
lado ocidental algumas práticas são contra o direito à vida e à
emancipação; para outras culturas essas mesmas práticas devem ser
aceitas com naturalidade, pois apenas reproduziriam uma tradição.
Dessa
forma, a tolerância com relação à diferença é válida, mas seu
limite não está claro, pois como podemos aceitar pacificamente o
apedrejamento de mulheres ou a mutilação de seus corpos? Daí a
necessidade da reflexão constante sobre tais limites, uma vez que o
maior objetivo sempre será o convívio harmonioso e a valorização
da vida.
(Paulo
Silvino Ribeiro)
Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Vamos
pensar!
Se
somos educados adquirindo valores de uma determinada cultura, que por
sua vez nos orienta construir uma visão de mundo, será possível
não julgar componentes de outras culturas sem dispensar um certo
valor a nossa? Se somos capazes de agir com essa postura, de que
forma podemos evitar comportamentos e posturas etnocêntricas?
Reflita!